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Frete marítimo: oscilações, instabilidades e o impacto no mercado

Publicado em 14/08/2023

Após uma escassez de contêineres, aumento da demanda e preço alto, o mercado se depara com uma situação diferente; apesar das condições adversas, a Maersk teve um 2T23 acima das expectativas

Por Camila Lucio


A indústria de transporte marítimo agora se depara com uma situação diferente (Foto: William Unsplash)

De uma escassez de contêineres, aumento da demanda e preço frete marítimo alto, a indústria de transporte marítimo agora se depara com uma situação diferente. Segundo análise do Valor Econômico, as rotas de comércio marítimo do Brasil chegaram a um maior equilíbrio entre oferta e demanda em 2023, após os anos de turbulência gerados pela pandemia.

“Segundo dados da consultoria Solve Shipping a rota de importação da Ásia para o Brasil chegou a julho em US$ 2.700 por contêiner de 40 pés, no mercado de curto prazo. Trata-se de um patamar um pouco mais elevado do que os preços de 2019, que giravam em torno de US$ 1.300, porém, muito abaixo dos picos vistos no auge do caos logístico, em que os preços alcançaram a casa dos US$ 12.000”, apontou o Valor Econômico.

Em entrevista à Allog Group, o diretor da Solves Shipping Intelligence, Leandro Carelli Barreto, ressaltou as variáveis que influenciam o frete marítimo na atualidade. “Dos lockdowns na Ásia, Europa e Estados Unidos até a guerra na Ucrânia, tudo impacta diretamente no valor e no fluxo internacional de cargas. Quando a gente acha que o mundo está indo para um lado, acontece uma ruptura e o setor dá uma derrapada de 180 graus, mudando tudo do dia para a noite”, ressaltou o executivo.

PERSPECTIVA DE MERCADO

Apesar das condições adversas de mercado, a Maersk registrou um segundo trimestre em 2023 acima das expectativas, enquanto a normalização do mercado continuou em andamento durante o período, levando a volumes e taxas mais baixas.

Segundo a companhia, a receita ficou em US$ 13,0 bilhões, em comparação com US$ 21,7 bilhões no segundo trimestre de 2022, e a lucratividade permaneceu forte, de 12,4%, embora menor em comparação com o excepcional segundo trimestre de 2022.

A Maersk aumenta a perspectiva financeira e agora espera um EBITDA subjacente de USD 9,5 - 11,0 bilhões (anteriormente USD 8,0 - 11,0 bilhões), EBIT subjacente de USD 3,5 - 5,0 bilhões (anteriormente USD 2,0 - 5,0 bilhões), apesar de uma perspectiva de mercado enfraquecida para o segundo semestre.

"O resultado do segundo trimestre contribuiu para um primeiro semestre sólido em 2023, no qual respondemos a mudanças bruscas nas condições de mercado, provocadas pela desestocagem e pelo ambiente de crescimento moderado após os anos de pandemia”, comentou Vincent Clerc, CEO da Maersk.

“Nossas ações decisivas de contenção de custos, juntamente ao nosso portfólio de contratos, amorteceram alguns dos efeitos dessa normalização do mercado. O foco nos custos continuará a desempenhar um papel central para lidar com uma perspectiva de mercado moderada que esperamos que continue até o final do ano”, ressaltou.

A receita do segmento marítimo diminuiu de US$ 17,4 bilhões para US$ 8,7 bilhões, impulsionada por uma redução nas taxas de frete e nos volumes carregados. Embora o ambiente de volume e taxas tenha se estabilizado em um nível mais baixo durante o segundo trimestre, o segmento marítimo continuou a ser afetado pela menor demanda, impulsionada por uma correção significativa dos estoques, principalmente na América do Norte e na Europa.

A receita em Logística e Serviços foi de US$ 3,4 bilhões, comparada a US$ 3,5 bilhões. O segmento também foi afetado por volumes menores devido à contínua desestocagem e à demanda mais fraca dos consumidores, bem como às baixas taxas. Assim como no segmento Ocean, espera-se que a demanda do mercado continue fraca, enquanto a correção dos estoques estiver em andamento.

A receita em Terminais diminuiu de US$ 1,1 bilhão para US$ 950 milhões e foi influenciada pela normalização da receita de armazenamento e por volumes menores em meio à menor demanda dos consumidores e ao menor congestionamento na América do Norte. O forte controle de custos contribuiu para um desempenho financeiro sólido e contínuo.

MERCADO DE FRETE AQUECIDO

O Porto Itapoá iniciou o segundo semestre de 2023 com recorde mensal de movimentação, com 99.396 TEUs (contêineres de 20 pés). O valor é cerca de 10% maior que os 89.880 TEUs movimentados pelo Terminal em julho de 2022.

O mesmo recorde já foi batido duas vezes neste ano, em março e maio, marcando um semestre bastante positivo, com 18% de crescimento em relação ao mesmo período do ano passado.

A maior parte das movimentações de julho foram importações, cerca de 15% do total, segundo o presidente do Porto Itapoá, Cássio Schreiner. “Os resultados do primeiro semestre de 2023 apontaram um crescimento de 40% das importações no Porto Itapoá em relação ao mesmo período de 2022”, destacou. “Mostra um movimento de mercado motivado, sobretudo, pela indústria”.

A China segue sendo o país origem da maioria das importações que vieram pelo Porto Itapoá, sendo Alemanha e EUA quarto e quinto lugares, respectivamente. As cadeias produtivas que mais movimentaram as importações no terminal foram maquinários geral e seus componentes, plástico e, ainda, tecidos, vestuários e calçados.

As exportações, por sua vez, corresponderam a pouco mais de 13% do total em julho, sendo os EUA o principal destino, seguido por China e Arábia Saudita. As cadeias produtivas que mais movimentaram as exportações no Terminal foram carnes congeladas e refrigeradas, madeira e suas obras e produtos químicos (orgânicos e inorgânicos).

As operações de transbordo também foram importantes, com cerca de 13% do total movimentado. “O transbordo é a operação em que os contêineres são desembarcados do navio para, posteriormente, serem embarcados em outro navio com destino diferente”, explicou Schreiner.