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Prever ou não prever, eis a encrenca!

 

Publicado em 09/07/2018

Existe no nosso mundo de Supply Chain uma discussão enorme e infinita sobre métodos de previsão de demanda. Também há inúmeras maneiras de se medir a qualidade do que foi previsto.

A previsão de demanda tem o próprio papel, não temos dúvida disso. Um bom processo de planejamento de vendas e operações (S&OP), aliado com boas técnicas de forecast, ajudam muitas empresas, se não a preverem corretamente a demanda, ao menos a garantirem que todos os “feudos” organizacionais falem do mesmo número. Usa-se o Mape como um dos principais indicadores de assertividade da previsão.

Mas agora o mundo é Vuca (volátil, incerto, complexo e ambíguo), e prever demandas nesse mundo é coisa para louco. De toda a minha experiência, nunca tinha visto os Mape’s errarem tanto. A demanda está mais desagregada, e todos sabemos o poder que a agregação estatística tem na correção de distorções individuais.

Enquanto alguns ainda se prendem exclusivamente aos estudos estatísticos do passado para prever demandas futuras, outros vão para o lado oposto do espectro. Abandonam completamente as previsões baseadas em histórico e focam em reagir com mais agilidade e nervosismo às vendas. Na TOC (teoria das restrições) por exemplo, defendemos que o ajuste dos níveis de estoque para atender um acordo de disponibilidade dos clientes deve ser constante, e baseado no comportamento das vendas reais (sem olhar o passado, sem tentar adivinhar o futuro). Temos técnicas fantásticas para isso.

Até mesmo Nassim Taleb, no espetacular livro “A Lógica do Cisne Negro”, defende que previsão é coisa inútil. Ele defende sim a capacidade de estar muito atento e reagir aos eventos em curtíssimo prazo. Isso conversa diretamente com a linha TOC, mas e quando os eventos são significativos e poderiam ter sido facilmente previstos?

Em outras palavras, prever ou não prever? Eis a encrenca!

Se o excesso de confiança no forecast baseado em estudos do passado pode te deixar lento, confiante demais em algo que tende a não se repetir, a confiança cega no curtíssimo prazo e na tua agilidade de reação pode te pegar de calças curtas.

Uma solução bastante interessante é a que tem sido proposta pelo pessoal da DDSC (demand driven supply chain, ou cadeia de suprimentos direcionada pela demanda em português). Em princípio, quando comecei a estudar o assunto, todos a DDSC ao mesmo pensamento da TOC, qual seja, reagir à demanda real, em tempo real. E de fato é disso que estamos falando, mas com um tempero adicional, que pode resolver a questão das demandas não razoáveis. Na DDSC, além de reagirmos à demanda real, colocamos um componente de forecast nos algoritmos. Mas não é o forecast de demanda baseado no histórico de vendas, como costuma ser o caso, mas sim uma previsão de grandes eventos que sabemos que ocorrerão. Estamos falando de sazonalidades, campanhas, festividades, e assim por diante.

No final das contas, conseguimos com isso o melhor dos dois mundos. O senso de urgência e agilidade da reação pura à demanda real, sem os sustos de grandes saltos provocados por eventos que já podemos prever, se não com precisão cirúrgica, com aproximação suficiente para não sermos engolidos pelo mundo Vuca.

Rodrigo Acras

Por Rodrigo Acras

É VP de Supply Chain na Aker Solutions. Já atuou como consultor Sr. de TOC e Processos (BPM) no grupo Malwee; gerente Sr. de Supply Chain – Logística, Logística, Planejamento, S&OP e Compras no grupo Malwee e nas áreas de engenharia de controle, engenharia de processos, produção, manutenção e supply chain em empresas como Tritec Motors (BMW & Chrysler), Renault e GVT/Telefônica. Professor e consultor associado no Instituto nomm.

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