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Roubo de cargas: Saiba por que as entregas do RJ vão parar

 

Publicado em 17/07/2017

"Na caçamba de cada caminhão, além da carga, viaja o medo." Motorista de caminhão do Rio de Janeiro.
 

Hoje trarei aqui uma situação dramática que afeta as operações logísticas do Rio de Janeiro, e estou certo que o assunto interessa a comunidade logística de todo o Brasil. Vamos dividir o texto em quatro partes: a paralisação, o contexto, o testemunho e caminhos a seguir.

1. A Paralisação
A distribuição de cargas no Rio de Janeiro pode ser suspensa, e paralisação tem uma data- 21 de agosto de 2017. A medida é um protesto das empresas de transporte contra a violência no roubo de cargas, cuja escalada de ocorrências saiu totalmente do controle nos últimos meses.

As Transportadoras, já com suas margens e prazos de pagamento sufocados pela situação de crise da indústria/varejo, não estão suportando mais o aumento de custos com gerenciamento de risco, escoltas armadas, incremento de seguros devido à sinistralidade, custos logísticos devido a mudanças de rotas/horários da circulação dos veículos, etc.

Isso tudo aumentou a despesa de transportes em cerca de 30%. E o segmento de Transportes quer dar um basta nesta situação.

2. O Contexto
Vou trazer aqui alguns elementos que darão a exata noção de como se chegou a esta situação de calamidade nas operações logísticas do Rio de Janeiro. Este é um problema grave a nível nacional, mas aqui vou me ater à gravidade do momento fluminense.

  • Nos últimos 6 anos, a violência causou um prejuízo de mais de R$ 2 bilhões ao estado do Rio de Janeiro (Fonte: Firjan);
  • Em 2017, uma carga é roubada a cada hora no Estado do RJ;
  • Para fugir dos roubos de carga, até carne está sendo transportada em carro-forte;
  • A Força Nacional de Segurança reforçou o policiamento no Rio há pouco mais de um mês. No entanto, o roubo de cargas aumentou ao invés de diminuir;
  • A situação econômica falimentar do Estado do RJ: A infraestrutura está sofrendo impactos severos- baixo efetivo de pessoal, atrasos nos salários, falta de materiais, equipamentos e até de viaturas. A Polícia Rodoviária Federal (PRF), responsável pela segurança nas rodovias federais, sofreu redução de 36% do efetivo alocado no estado nos últimos cinco anos. É importante destacar a responsabilidade Federal na questão do controle de fronteiras, desarmamento dos bandidos, tráfico de drogas etc;
  • Desde fevereiro deste ano foi criada uma taxa chamada Emex, emergercial excepcional, que é cobrada 1% sobre o valor da mercadoria para todas as mercadorias destinadas ou com origem no Rio de Janeiro. Isso é inadmissível;
  • Os preços de algumas mercadorias mais visadas aumentaram até 20% na venda ao consumidor final;
  • E o contexto mais imensurável e doloroso de todos: trabalhadores, crianças, cidadãos comuns estão morrendo diariamente nesta guerra.

3. O Testemunho
Falei há pouco com alguém que está vivendo diariamante este momento trágico para o Transporte de Cargas. Luiz Cláudio de Oliveira é Diretor da Transportadora Rodofly, Diretor da Fetranscargas e Diretor do Sindicarga. Ele me disse o seguinte:

  • Está insuportável manter Transporte no Rio de Janeiro. Somente esta semana foram quatro tentativas de roubo. Os marginais estão roubando na cara dura. Não tem mais hora, local ou perfil de carga. Estão roubando na Avenida Brasil baús, container, o que for. Hoje, cargas roubadas são vendidas nos trens até duas horas após o crime.

Pergunto sobre aumento nas despesas. Luiz Cláudio explica:

  • A despesa geral no transporte de distribuição urbana aumentou em torno de 25%. A Seguradora proibiu a circulação de cargas entre 22:00 e 05:00, o que diminui a produtividade da frota. A taxa de seguros cresceu acima de 50%. A utilização de escoltas também cresceu acima de 40%. Não podemos esquecer o cenário de grave crise econômica do país, e nenhum dos elos da cadeia têm condições de absorver aumento de custos. O Poder Público tem a obrigação de agir.

4. Caminhos a Seguir
Voltamos ao ponto de que o Brasil possui leis, mas a execução é falha. Neste caso, bastaria seguir à risca o que estabelece a Política Nacional de Repressão ao Furto e Roubo de Veículos e Cargas- Decreto 8614 de 2015. Algumas ações fundamentais constam em estudo da FIRJAN, entre outras:

  • Aumentar o efetivo policial nas áreas com maiores incidências, inclusive com ocupação permanente (ex: Chapadão, Cidade Alta); 
  • Recompor o quadro da PRF no estado do Rio de Janeiro;
  • Ter uma atuação direta da Polícia Federal no combate às organizações criminosas que utilizam o roubo de cargas para financiar o tráfico de drogas e armas; 
  • Fazer funcionar adequadamente os postos de fiscalização rodoviária, como postos da PRF, barreiras fiscais e balanças, em especial nas principais fronteiras estaduais; 

Outro elo da cadeia do roubo de cargas que precisa ser combatido é a receptação, armazenamento e venda de produtos roubados. A falta de punição adequada a este crime é um grande motor do seu crescimento.

Por fim... 
Acredito que essa paralisação nos transportes não se confirmará, mas que a ameaça amplie a consciência da sociedade sobre o problema, e gere ações efetivas do poder público em todas as esferas.

 

Luís Eduardo Ribeiro

Por Luís Eduardo Ribeiro

É Gerente Regional de Operações da Martin Brower, líder global em soluções logísticas de ponta a ponta para redes de restaurantes. Ao longo da carreira, liderou a supply chain de empresas como DHL, Carrefour, Ponto Frio, bioMérieux etc. Em 2016, planejou e executou a logística de alimentos para as Olimpíadas RIO-2016. Recebeu Moção de Reconhecimento da Assembleia Legislativa do RJ pelos serviços prestados como Administrador de Empresas. Foi eleito Profissional de Logística do Ano pela Revista MundoLogística.

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