*Por Jorge Serrano Pinto
Uma definição simples de pátio logístico pode ser “uma área contígua a um armazém, onde circulam caminhões e pessoas”. Porém, é possível, desde já, agregar alguma complexidade: os veículos podem circular carregados ou não, ser de diversos tipos (caminhões, empilhadeiras, carros particulares etc) e as pessoas poderão ser funcionárias da empresa, visitantes, entre outras.
Por outro lado, o pátio logístico pode pertencer a uma fábrica, armazém, centro de distribuição ou operador logístico. Para além dos caminhões (e outros meios de transporte rodoviários), em um pátio logístico intermodal podem interagir trens, navios ou aviões.
Nesse breve exemplo, são visíveis as diversas variáveis, que, com certeza, a empresa, dona do pátio, pretenderá controlar. Portanto, é fácil verificar que a gestão de um pátio logístico pode se revestir de um grau de complexidade considerável e que a sua otimização é um desafio grande, mas necessário e permanente.
Sem um software para a gestão do pátio, as variáveis são controladas por meio de procedimentos melhores ou piores, definidos e executados por vezes em papel e em um único ponto: na portaria. Esse fato, além de tornar o controle burocrático e demorado, também o limita, porque não se sabe nada acerca do que aconteceu antes, do que está acontecendo ou do que virá a acontecer no pátio. Como um Yard Management System (YMS) poderá melhorar tudo o que existe e ir mais além?
Comecemos por expandir o conceito de pátio logístico, anteriormente apresentado, que poderá ser um grande espaço ao ar livre, comum a vários armazéns, ou uma área de um porto, onde são colocados os contêineres, ou um terminal ferroviário, no qual se encontram vagões, ou uma área específica de um aeroporto, ou toda uma imensa área de uma empresa de mineração ou madeireira.
Ou seja, é uma área dedicada a operações logísticas, onde as movimentações de vários tipos de meios de transporte, cargas e pessoas podem ser muito complexas, com necessidade de ser planejada, gerenciada e otimizada.
No nível mais básico, um YMS deverá gerenciar todo o fluxo de movimentações, para saber o que está acontecendo e guardar o histórico dos ocorridos. Esse histórico possibilita o cálculo de Key Performance Indicator (KPIs), como tempos médios de estadia dos veículos nas instalações, carga e descarga, espera até ser atendido ou quantidade de veículos em espera, frequência de visitantes etc. Esses KPIs deverão permitir o ajuste do processo.
No entanto, um YMS também deverá permitir planejar acontecimentos, antecipando problemas: quais veículos vêm a caminho e suas características, em que momento chegarão, que carga transportam, para que doca deverão se dirigir, entre outros. Cruzando o planejado com o que está sendo executado, um YMS deverá identificar e alertar para os possíveis desvios.
Qual o custo que filas de caminhões na portaria (ou em um estacionamento buffer próximo), aguardando a sua vez de entrar, traz para a empresa (e para a sua competitividade)? A causa mais comum para esse fenômeno é uma gestão de pátio passiva, pois lida-se com o problema, quando ele já aconteceu (o veículo chegou e a separação ainda não foi terminada, não existe uma doca disponível, não há gestão de janelas temporais etc), interrompendo a desejável fluidez do processo logístico.
Assim, um YMS também deverá antecipar os problemas, por meio de uma gestão ativa. Por exemplo, notificando o motorista do caminhão para dirigir mais devagar, porque a sua janela temporal só acontecerá depois de uma hora e, à velocidade a que ele vem, chegará em 40 minutos. Isto é, o YMS deverá expandir os seus horizontes para além dos muros do pátio.
Um YMS pode originar projetos muito interessantes, sozinho ou conectado com diversos dispositivos e tecnologias. Por exemplo, se conectado a um Transportation Management System (TMS), saberá as características de determinado veículo, a carga que transporta e a sua placa. Se conectado a um Warehouse Management System (WMS), saberá para que armazém e doca o veículo se dirige. Então, mesmo antes de chegar às instalações, o motorista já saberá para onde deverá encaminhar-se, o pessoal do armazém será notificado da previsão da chegada do veículo, que, quando chegar, fará abrir automaticamente a cancela de acesso, por meio da leitura da sua placa, ficando o evento registrado no sistema.
Em determinados casos, o caminhão pode ser pesado na entrada e saída, e essa informação também ficará automaticamente registrada no sistema (essa é uma boa alternativa para um YMS, trabalhando sem WMS, fazer uma atualização automática das existências).
É possível fazer o controle de acessos, por meio de cartões magnéticos ou Radio-Frequency Identification (RFID) e essa tecnologia também poderá ser utilizada para rastrear cargas e pessoas, ou mesmo, localizar determinado produto no pátio (a tecnologia Global Positioning System (GPS) é outra alternativa) ou, ainda, para a criação de “barreiras lógicas”, que avisam o operador, no caso de algum bem as ultrapassar indevidamente. Outros “voos” (já em análise na Europa, por exemplo) passam pela conexão do YMS com drones.
Um YMS, além de tornar a operação mais barata, deverá fazer com que ela aconteça de uma forma mais suave, uma vez que tem um impacto direto na operação do pátio e em toda a operação logística.
Apesar de já bastante desenvolvido, o YMS ainda evoluirá mais, especialmente em duas áreas sensíveis para a logística: planejamento e otimização. Fará isso olhando para a cadeia de suprimento como um todo, para lá do pátio, sempre com o objetivo final de contribuir para um processo logístico mais eficiente, reduzindo custos e aumentando a produtividade das empresas (maximizando o seu lucro), para que todos nós, consumidores, possamos também ganhar, poupando.
*Jorge Serrano Pinto é especialista em Logística da Divisão de Aplicativos da Sonda IT.