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Visibilidade dinâmica pode ajudar o Supply Chain na alta temporada

Publicado em 28/10/2022

Em tempos de importância sem precedentes para as movimentações, é fundamental capitalizar as oportunidades e minimizar o impacto das interrupções

Artigo | Por Pierre Jacquin *


Foto: Divulgação

O desempenho das cadeias de suprimentos globais melhorou ao longo de 2022, mesmo tendo sido impactadas por diversos fatores macro no primeiro semestre. No entanto, continuamos a observar meses de intensa pressão à medida que chegamos perto do final de ano e com a alta temporada. A escalada da inflação e a queda de quase 30% da produção industrial chinesa são pontos de apreensão neste momento de um maior volume de cargas circulando.

Outros problemas que estão afetando o curso normal são: o grande número de greves trabalhistas (que também devem acontecer na virada do ano na Europa, por causa da inflação com a alta do gás); a falta de espaço devido aos pátios ocupados por contêineres vazios; a capacidade intermodal insuficiente; e o aumento dos tempos de importação com grandes demandas. Questões geopolíticas, como a guerra no Leste Europeu, também impactaram os embarques neste ano. Para completar, há escassez de matérias-primas e problemas com algumas unidades industriais.

Também vemos que as taxas de frete oceânico melhoraram drasticamente desde o início do ano e se aproximam dos níveis pré-pandemia. A demanda no varejo permaneceu relativamente forte, até porque alguns varejistas fizeram estocagens antes do planejado.

Diante de todo este cenário, 36% dos americanos acreditam que não receberão encomendas no prazo esperado neste final de ano, segundo uma pesquisa realizada pela project44. É provável que se mantenha ainda nos próximos meses uma mudança nos hábitos, com consumidores de diversas regiões trocando os gastos em bens de consumo por serviços, diante da escalada inflacionária global.

Para evitar mais contratempos nos próximos meses com os processos logísticos, as empresas podem agir e implementar novas soluções. Não é possível que simplesmente manterem mais estoques e construírem capacidade redundante, até porque isso é inviável em muitos casos, por questões de custos. A resposta é investir no planejamento de vendas e antecipação de pedidos, além da adoção de ferramentas capazes de aumentar sua resiliência e a capacidade de tomar decisões logísticas de maneira mais embasada e eficaz.

A grande oportunidade para as empresas é o investimento em visibilidade inteligente, conceito que envolve duas dimensões: visibilidade estrutural e visibilidade dinâmica. A primeira é basicamente um estudo de fornecedores, operações fabris e rotas logísticas utilizadas, inclusive por parceiros. A partir disso é possível mapear a rede, modelar cenários e fazer análises de risco, de modo a verificar possíveis vulnerabilidades. Por sua vez, a visibilidade dinâmica é aquela que permite saber qual a situação atual da cadeia de suprimentos e onde estão ocorrendo perturbações. Para embarques de cargas, isso é possível por meio de uma plataforma de RTTV (visibilidade em tempo real do transporte, na sigla em inglês).

No transporte marítimo, por exemplo, esse tipo de solução digital é capaz de monitorar a situação de quase todos os portos mundiais, rastreando diariamente algo em torno de 350 mil contêineres com precisão de 20 metros. Na prática, a visibilidade em tempo real possibilita que empresas e expedidores saibam de congestionamentos de determinados atracadouros, permitindo traçar rotas alternativas que minimizem atrasos nas importações e exportações. Se um porto apresenta dez dias de espera para transbordos, outro porto no mesmo destino pode estar com pouco, ou nenhum represamento nas operações justificando um desvio.

O estágio mais avançado da visibilidade dinâmica é a chamada execução autônoma. Nesse nível, uma central de controle utiliza tecnologias embarcadas na plataforma de RTTV, como inteligência artificial, Machine Learning e Blockchain. Para agir independentemente, retraçando rotas e aproveitando oportunidades surgidas nas cadeias de suprimentos. De acordo com um estudo recente da Accenture, junto a grandes empresas, apenas 3% delas afirmaram utilizar a execução autônoma. Eis um potencial recurso para evitar transtornos em períodos de pico, além de um diferencial competitivo perene para as operações em tempos de grandes sobressaltos.

A princípio, esse grau mais sofisticado da visibilidade dinâmica pode parecer algo restrito a companhias gigantes, mas não é. Primeiro, porque é possível começar pelas áreas mais importantes (produtos, clientes ou fornecedores mais críticos) e avançar aos poucos para outras operações. Em tempos de importância sem precedentes para as movimentações, é fundamental capitalizar as oportunidades e minimizar o impacto das interrupções. Monitorar processos por meio do intercâmbio eletrônico de documentos e de outros sistemas altamente dependentes de intervenção humana pode custar muito caro nas operações globais. A boa notícia é que, assim como em quase tudo, as soluções digitais, não obstante os nomes e conceitos por vezes difíceis simplificam cada vez mais o nosso dia a dia.


* Pierre Jacquin tem mais de vinte anos de experiência nas indústrias de tecnologia, inteligência de mercado e Supply Chain. Atualmente, é vice-presidente da project44 para a América Latina.

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