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Futuro das estradas? A preparação para os veículos autônomos no Brasil

Publicado em 11/02/2024

Mercado avança no Brasil no setor logístico e indústria, mas enfrenta desafios legislativos e de tecnologia

Por Redação

Futuro das estradas? A preparação para os veículos autônomos no Brasil
Atualmente, o uso de veículos autônomos no Brasil é restrito a percursos fechados e passíveis de mapeamento (Foto: Shutterstock)

Mais de 114 bilhões de dólares. Essa é a estimativa para o tamanho que o mercado de veículos autônomos deve alcançar nos próximos 5 anos, dentro de uma tendência que começa a ser testada em diferentes partes do mundo e tem potencial para transformar de modo disruptivo não só o trânsito das cidades, mas a logística e setores econômicos fundamentais como a agroindústria.

De fato, é nas esferas da logística e do agro que os primeiros sinais do potencial de veículos sem motoristas vêm sendo observados no Brasil, uma vez que, para o transporte urbano, os carros autônomos ainda dependem de avanços legislativos – os quais também dão seus primeiros passos em um debate complexo, mas que possivelmente definirá o futuro das estradas.

"A consultoria Mordor Intelligence estima que, já em 2024, o mercado de veículos autônomos deve movimentar aproximadamente US$ 41,1 bilhões ao redor do mundo e crescer em um ritmo médio anual de 22,7% ao ano."

ENTENDENDO O VEÍCULO AUTÔNOMO E O MERCADO

Primeiramente, é interessante observarmos que a indústria de veículos autônomos trabalha com 5 níveis de automação para definir o quão independente é um carro:

  • Nível 0: nestes veículos, não há nenhum nível de automação e todos os processos de condução são realizados pelo motorista;
  • Nível 1: no primeiro nível de automação – já disponível em muitos carros – é possível contar com diferentes tipos de assistência automatizada, como controle de velocidade, piloto automático e os sistemas anti-colisão;
  • Nível 2: no segundo nível de automação, os veículos podem andar de modo independente por quilômetros e realizar manobras complexas, como estacionamento, manutenção de faixa, distância e curvas;
  • Nível 3: na automação condicional, os veículos possuem sensores e inteligência artificial avançada que permitem que o veículo seja conduzido com amplo nível de independência e tome decisões de direção, com o motorista podendo intervir em situações complexas e de emergência;
  • Nível 4: aqui a automação já é praticamente plena, com a condicionante de que os veículos ainda dependem de condições climáticas, de mapeamento e de sinalização ideais para o seu funcionamento sem intervenções;
  • Nível 5: finalmente, no último nível de automação não há qualquer interferência de condutores que, literalmente, se tornam passageiros em qualquer condição de tráfego.

É válido observar que, considerando o contexto das legislações atuais ao redor do mundo, a maioria dos veículos autônomos que vêm sendo desenvolvidos pelas fabricantes automotivas estão entre as faixas de nível 3 e 4 (quando ainda é possível contar com intervenção de motoristas, caso necessário).

Também em virtude desse contexto, são poucos os países que realmente já vivem exemplos dos carros autônomos em seu trânsito urbano. Nos Estados Unidos, por exemplo, cidades como São Francisco, Austin e Texas começaram a testar carros autônomos em uma tendência iniciada a partir de 2022 por empresas como Waymo (Google), Cruise (General Motors) e Zoox (Amazon).

Fukui, no Japão, é outra cidade que já possui capacidade para veículos com automação de nível 4, ao passo que na Europa, a Alemanha é um dos países mais avançados em termos legislativos para os carros autônomos – no ano passado, vans de direção autônoma da Volkswagen começaram a circular em Munique.

Em um plano mais segmentado, os testes sobre a automação veicular ganham força em automotores que incluem desde carrinhos de golfe até tratores. No Brasil, por exemplo, a empresa VIX lançou em 2022 o trator autônomo de nível 4 que conta com aplicações não só no agro, mas em indústrias como a siderúrgica e de mineração.

Diante desse cenário, a consultoria Mordor Intelligence estima que, já em 2024, o mercado de veículos autônomos deve movimentar aproximadamente US$ 41,1 bilhões ao redor do mundo e crescer em um ritmo médio anual de 22,7% ao ano até 2029.

VEÍCULOS AUTÔNOMOS NA LOGÍSTICA

Pensando na realidade brasileira, a logística é outro dos segmentos que tem visto avanços significativos para o mercado de veículos autônomos. Um exemplo é Axor 3131, da Mercedes-Benz, que teve aproximadamente mil unidades vendidas no Brasil em 2023 e conta com nível 2 de automação, o mesmo do Constellation 31.280 da VWCO.

Em 2023, a Ypê foi uma das grandes empresas que aderiu aos caminhões autônomos, dentro de seus processos de inovação focados nos pilares da logística 4.0. Para tanto, a companhia investiu na aquisição de caminhões Atego 1730, da Mercedes-Benz, para seus centros de distribuição.

O ganho de mercado dos caminhões com funções autônomas no segmento logístico não acontece por acaso: atualmente, o uso de veículos autônomos no Brasil é restrito a percursos fechados e passíveis de mapeamento.

DESAFIOS E LEGISLAÇÃO

Naturalmente, nem tudo são flores no universo da automação veicular: por se tratar de uma tecnologia emergente, disruptiva e, em larga medida, em fase de testes, alguns obstáculos ainda precisam ser superados para o ganho de escala deste mercado, de modo que os veículos autônomos se tornem uma realidade para além dos espaços controlados.

Uma reportagem recente da Folha de S. Paulo, nesse sentido, relatou desafios na aplicação dos táxis autônomos nos Estados Unidos, incluindo mais de 600 incidentes envolvendo esses veículos na cidade de São Francisco no espaço de 1 ano.

Outro ponto importante é a já citada questão legislativa: no Brasil, por exemplo, o Projeto de Lei 1317/23 entrou em debate na Câmara dos Deputados e propõe alterações no Código de Trânsito Brasileiro para abarcar as responsabilidades e meios de controle dos veículos autônomos no país. Atualmente, o PL aguarda parecer da Comissão de Viação e Transportes (CVT).

Mas esse não é o único desafio para o nosso país: da necessidade de implementação mais célere do 5G a importância de incentivos para o desenvolvimento de uma tecnologia cuja infraestrutura ainda é alta, estamos falando de um cenário que, na prática, coloca o Brasil como um player tímido para um mercado de veículos autônomos que começa a se desenhar.

Por fatores como esses, aliás, o Brasil ficou com a última posição em estudo da KPMG de 2020 que apresentou o Índice de Prontidão para Veículos Autônomos – o primeiro lugar do ranking ficou com Singapura, país que iniciou testes com ônibus autônomos ainda em 2021.

Mesmo com esses entraves, não parece exagero vislumbrar um futuro – seja de médio ou de longo prazo – no qual os veículos autônomos passarão a fazer parte do dia a dia de nosso trânsito. Ou alguém duvida do poder da tecnologia?

ESTRADAS DO FUTURO

Enfrentar o desafio dos acidentes em estradas e rodovias do Brasil não é uma questão simples e, ao mesmo tempo, trata-se de uma demanda que pede urgência. De acordo com dados da CNT (Confederação Nacional de Trânsito), só em 2022, mais de 64 mil acidentes foram registrados no país — desses, 82,1% deixou vítimas, incluindo mortos e feridos. Em termos gerais, o Brasil ocupa a preocupante posição de 3º país com o maior número de mortes no trânsito, conforme relatório da OMS (Organização Mundial de Saúde). 

MundoLogística lançou a campanha “Estradas do Futuro”, uma iniciativa que conta com patrocínio da nstech e da Quartzolit, apoio da Onisys, da Associação Brasileira de Operadores Logísticos (ABOL) e da Associação Brasileira de Logística (Abralog). Por meio da campanha, o intuito é unir os diferentes atores da cadeia logística nacional, difundindo conteúdos educacionais que tragam tanto visibilidade para a pauta da segurança no transporte rodoviário, quanto práticas e divulgação de soluções que possam colaborar com a capacitação e proteção de motoristas.

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