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Entrevista com o sócio da HD8 Associados, José Luis González, sobre a Zona Franca Privada do Uruguai

 

Publicado em 05/07/2016

Isenção de impostos atrai empresas estrangeiras à Zona Franca Privada do Uruguai
Com posição geográfica estratégica, regime de isenções totais de impostos e custos de armazenagem baixos, a Zona Franca é uma alternativa às empresas brasileiras, que buscam a redução de custos e maiores facilidades no trânsito de seus produtos

Por Viviane Farias | Redação MundoLogística 

Composta por uma grande estrutura de armazéns, fábricas e galpões, que visa trazer as operações logísticas de empresas estrangeiras, a primeira Zona Franca Privada do Uruguai está em operação há 25 anos. Esse empreendimento é resultado da lei que implantou, no final da década de 1980, o regime de isenções totais de impostos, no país. Em busca de empresários brasileiros para se instalarem na região, garante a isenção de impostos sobre a renda e o patrimônio, e de todos os impostos e taxas aduaneiras, podendo repatriar 100% do capital e dos lucros.

No entanto, a indústria brasileira subaproveita a Zona Franca uruguaia, ao contrário da Argentina, que, em 2014, movimentou mais de US$ 1 bilhão em cargas transitadas do Uruguai para o país, enquanto o Brasil transitou pouco mais de US$ 300 milhões em cargas. De janeiro a abril de 2016, a Argentina já soma mais de US$ 78 milhões em cargas movimentadas e o Brasil apenas US$ 11 milhões.

Com o objetivo de mudar essa realidade, a HD8 Associados tem buscado fomentar o uso das Zonas Francas uruguaias por companhias brasileiras. Consolidada em 2015, a consultoria representa oficialmente os grupos logísticos de armazéns e estruturas fabris da Zona Franca Privada do Uruguai, Abdony e RAS. Em entrevista à Revista MundoLogística, o sócio da HD8 Associados, José Luis González, que é uruguaio e mora há 30 anos no Brasil, destaca os principais aspectos que envolvem a Zona Franca, como a localização geográfica, a infraestrutura, a burocracia, os custos para a permanência dos estoques, entre outros.

MUNDOLOGÍSTICA: Quais as facilidades que a Zona Franca Privada do Uruguai proporciona às empresas brasileiras?
JOSÉ LUIS GONZÁLEZ
: Desde 2011, quando foi fundada a HD8 Associados, meu objetivo é mostrar às empresas brasileiras as vantagens que o Uruguai, com a sua Zona Franca, proporciona, com relação à logística, à posição geográfica estratégica do Porto de Montevidéu, ao regime tributário, com isenção de impostos, e aos custos mais competitivos, não sendo necessário nacionalizar as cargas, visto que ficam depositadas em trânsito na Zona Franca, cujo importador brasileiro pode ir nacionalizando-as, no Brasil, conforme a sua necessidade. Atualmente, com esse quadro de recessão econômica, no Brasil, os importadores não precisam nacionalizar todas as suas cargas de uma vez, pagando os impostos e esperando que as vendas aumentem. Na Zona Franca, eles pagam o custo de armazenagem fixo mensal pelo espaço que ocupa no armazém, independentemente do valor da mercadoria.

Com relação à logística, qual a estrutura presente nessa Zona Franca e a sua localização?
A HD8 Associados representa dois grandes operadores uruguaios. O maior operador logístico do Uruguai, que é o Grupo RAS, possui, na Zona Franca, 20 mil m² de armazém coberto, mais uma área anexa de 10 mil m² para a ampliação, que deve começar no início de 2017. O Grupo RAS segue o conceito de one stop shop, que, ao contratar o seu serviço, conta com o porta a porta, recolhendo a carga na origem e levando-a até o destino final, seja no Uruguai, Argentina ou Brasil. O outro grupo é o Abdony, que tem um armazém de 2.000 m² e mais 3.000 m² que ficarão prontos no segundo semestre, passando para 5.000 m² de área coberta. Esses grupos possuem toda a estrutura logística, como transporte nacional rodoviário, despacho aduaneiro, seguro, entre outras. Os armazéns e os galpões fabris da Zona Franca do Uruguai ficam a 15 km do porto e a 5 km do Aeroporto Internacional de Montevidéu.

Essa Zona Franca apresenta menos burocracia do que no Brasil?
O grande diferencial é a desburocratização, visto que não se está nacionalizando o produto, pois é uma entrepostagem da carga. Não é preciso pagar imposto algum. O único custo é o frete marítimo da origem até qualquer porto do Brasil e os custos portuários, que são praticamente os mesmos do Brasil. A grande diferença está nos custos de armazenagem. A armazenagem de uma carga, no Brasil, é de 0,25% sobre o valor do Cost, Insurance and Freight (CIF) da mercadoria. Se o produto tem alto valor, o custo dessa armazenagem é muito caro. No entanto, por esse mesmo produto, paga-se, no Uruguai, em média, US$ 15 o metro quadrado por mês, independentemente do valor da mercadoria.

Quais os benefícios que a Zona Franca oferece?
O principal é o seguro. No Brasil, o seguro de uma mercadoria é cerca de 0,6% sobre o seu valor, enquanto no Uruguai é 0,065%. Além disso, no país, não se paga os 25% de Marinha Mercante sobre os impostos marítimos. Por exemplo, levando produtos da China para o Uruguai, o frete é de US$ 3.000. No Brasil, seriam pagos 25% sobre esse valor. Porém, como serão descarregados no Uruguai, essa porcentagem não é paga. Os custos de armazenagem também são menores, pois não são baseados no produto, mas no espaço ocupado. Há o benefício, ainda, de ter o estoque próximo do Brasil e atender a outros mercados, como a Argentina, o Paraguai, o Chile e o Equador, a partir do mesmo centro de distribuição, sem ter de pagar impostos no Brasil para exportar para esses lugares.

A Lei de Livre Comércio facilita a instalação de uma empresa no Uruguai?
Com certeza. Todas as atividades realizadas pelas empresas estrangeiras dentro da Zona Franca, na área de logística e serviços, são isentas de impostos. A filosofia do regime de Zona Franca, no Uruguai, é não tributar a empresa estrangeira que está investindo no país, uma vez que ela girará a roda de empregos nas empresas uruguaias. Essas empresas que prestam serviços às estrangeiras pagarão os tributos, pois contratarão a mão de obra para fazer a movimentação dos contêineres, o picking e packing dos produtos, entre outros. Portanto, a empresa estrangeira não será penalizada com os tributos. A tratativa de Livre Comércio facilita a entrada e saída de produtos e serviços, para poder transitar e melhorar, ainda mais, o comércio inter-regional.

Quais as alternativas logísticas existentes para transitar do Uruguai para o Brasil?
Dependendo da região, no Brasil, por exemplo, da faixa que vai do Sul ao Sudeste, o melhor modal é o terrestre. Se o destino dos produtos é o Norte e Nordeste, convém utilizar o marítimo, por cabotagem. Há a vantagem, também, aérea, sendo que há quatro voos por dia de Montevidéu para Guarulhos. Então, tem-se a conexão de todos os modais.

Já há interesse ou empresas brasileiras instaladas nessa Zona Franca?
Há várias empresas instaladas e operando. A nossa missão é aumentar a divulgação dessas vantagens às indústrias brasileiras. Nesses últimos dois anos, ao longo dessa crise, estamos apresentando a Zona Franca como uma alternativa de redução de custos para muitas empresas, para não terem de mobilizar o capital com o estoque, no Brasil, quando se tem um período de redução de vendas. Com a nacionalização aos poucos dessa mercadoria do Uruguai para o Brasil, é possível fazer uma melhor gestão do fluxo de caixa, além da chance de abrir novos mercados, em outros países da região.

Quais as expectativas futuras com relação à prospecção de novas empresas brasileiras se instalarem na Zona Franca?
Há empresas que enxergam realmente onde está a oportunidade e quais as vantagens oferecidas. Estamos, atualmente, desenvolvendo projetos e estudos de viabilidade para cinco empresas de diferentes setores, algumas são brasileiras e outras multinacionais, que comercializam os seus produtos em outros países da região e estão interessadas em mudar o sistema logístico, em função da facilidade que o Uruguai tem com relação à localização geográfica e ao alcance de todos os países, por todos os modais, com a vantagem das isenções fiscais.

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